Tamanho da fonte:
COTIDIANO, SAÚDE MENTAL E PROCESSOS DE TRABALHO NA VISÃO DE EQUIPES DE UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS DO ESTADO DO PARANÁ
Última alteração: 05-10-2020
Resumo
INTRODUÇÃO: A privação da liberdade de adolescentes que cometem atos infracionais é necessária para o alcance de objetivos jurídicos e pedagógicos, embora possa gerar inúmeros fenômenos por seu caráter institucionalizante, tais como a perda da autonomia e de identidade. Na privação de liberdade, a constrição da escolha e da oportunidade de se envolver em ocupações pode influenciar negativamente a saúde e o bem-estar, resultado de um estado de difícil, senão impossível, engajamento em ocupações significativas e com relevância social, cultural e pessoal. OBJETIVOS: Descrever as percepções dos(as) trabalhadores(as) quanto o cotidiano dos CENSE e as atividades que o compõe e suas possíveis correlações com os fatores que geram sofrimento e crises de saúde mental no público atendido nos CENSE do Estado do Paraná. MATERIAL E MÉTODOS: Pesquisa avaliativa de cunho exploratório-descritivo com preceitos da Triangulação de Métodos. Foram realizadas seis entrevistas semiestruturadas, sete observações participantes e sete grupos focais com as equipes de sete CENSE do Estado do Paraná. Após a leitura extensiva do material foram construídos núcleos argumentais, agrupados em seis categorias por meio da abordagem hermenêutica. RESULTADOS: Os resultados foram baseados na análise das narrativas das equipes. A inadequação da estrutura física das unidades, o déficit de recursos humanos e o tamanho das unidades pareceu influenciar no atendimento prestado aos(às) adolescentes. A privação de liberdade e o não engajamento em ocupações foi apontado como gerador de efeitos negativos na saúde mental dos(as) adolescentes internados(as). Certas atividades foram apontadas como ausentes de significado ou superficiais devido à aparente inexistência de espaços para escuta dos interesses do público atendido, sendo aquelas de cunho expressivos e corporais como possivelmente benéficas à saúde mental. As equipes apontaram que, assim como os(as) adolescentes, sentiam-se também, de certa maneira, institucionalizadas. As tentativas de suicídio de adolescentes e a culminação de seu ato se apresentaram como um aspecto impactante na saúde mental das equipes e inerentes àqueles locais de trabalho, assim como a falta de estrutura e o sentimento de desamparo pelo Estado. Por serem as unidades instituições totais, uma dicotomia foi aparentemente observada: ora as equipes discorreram sobre posturas ressocializadoras, ora sobre posturas repressoras. CONCLUSÃO: O processo de trabalho das unidades socioeducativas é definitivo na construção de um cotidiano institucional. Por meio de suas próprias vivências institucionalizantes as equipes pareceram replicar e normalizar formas de autoritarismo no cotidiano das unidades. Ademais, o cotidiano não parece considerar as reais necessidades dos(as) adolescentes, uma vez que as necessidades das próprias equipes não parecem estarem sendo levadas em consideração.
Palavras-chave
atividades cotidianas; adolescente institucionalizado; saúde mental;