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A MATRIZ ASSISTENCIAL OFERTADA A GESTANTES INTERNADAS EM UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
Última alteração: 05-10-2020
Resumo
Introdução: A gestação é um momento de alta prevalência de transtornos mentais, os quais aumentam a incidência de desfechos perinatais, principalmente quando acarretam um acompanhamento pré-natal insuficiente. Ainda assim, há falta de uma abordagem sistemática para o manejo dessas mulheres quanto ao local onde devem ser atendidas dentro da rede. Um retrocesso nas políticas de saúde mental no país inseriu o hospital psiquiátrico na rede de assistência psicossocial, tornando-o uma opção de tratamento para a população gestante. Objetivos: Caracterizar a população gestante internada em um hospital psiquiátrico regional e identificar a matriz assistencial ofertada a ela. Materiais e métodos: Estudo quantitativo, transversal, retrospectivo, observacional e descritivo, conduzido no Hospital Adauto Botelho (Pinhais/PR). Os dados foram coletados entre julho e setembro de 2019 em formulário semiestruturado e obtidos com base em informações extraídas do acervo de prontuários. A amostra foi obtida por conveniência de forma não-aleatória, abrangendo todas as mulheres que eram gestantes na admissão ou foram diagnosticadas durante o internamento no período de 2017 a agosto de 2019, resultando em uma amostra de 46 gestantes. A análise descritiva foi realizada por meio das frequências (absoluta e relativa) e outras análises estatísticas. Resultados: A média de idade das gestantes foi de 26 anos. 21.7% estava no primeiro trimestre, 37% no segundo trimestre e 30.4% no terceiro trimestre. Mais da metade (56.5%) tinha formação escolar até o ensino fundamental II, a maioria era desempregada (45.7%) e 37% não recebia nenhum tipo de amparo social. Das internações, 37% foram voluntárias, 41.3% involuntárias e 21.7% compulsórias. A média de tempo de internação foi de 39.3 dias. Quanto ao pré-natal durante o internamento, 37% realizaram e 63% não realizaram. Das consultas de pré-natal, 77,2% foram realizadas em hospitais e 17.6% em Unidades Básicas de Saúde. Em relação a atendimento por equipe multidisciplinar, 30.4% tiveram um atendimento a cada, no máximo, dois dias, 32,6% tiveram um atendimento a cada 3 a 7 dias e 37% tiveram menos de um atendimento por semana. Os medicamentos mais prescritos foram antipsicóticos e benzodiazepínicos e todos os psicotrópicos eram categoria C ou D de risco na gravidez. Conclusão: A maior parte da população desse estudo se encontrava em situação de vulnerabilidade e recebeu cuidados não congruentes com os princípios da territorialização, da primazia da Atenção Básica e da Reforma Psiquiátrica. Esse trabalho soma dados ao entendimento de que o hospital psiquiátrico não se apresenta como o local mais adequado para o tratamento de gestantes com transtornos mentais, uma vez que foram identificadas aparentes lacunas nos atendimentos multiprofissionais para cuidado de saúde mental e uma baixa densidade de acompanhamento pré-natal e obstétrico.
Palavras-chave
Internação; Hospital Psiquiátrico; Gestação; Gestante