Biblioteca Digital de Eventos Científicos da UFPR, II Congresso de Saúde Coletiva da UFPR

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A HISTÓRIA DA AIDS NO MATO GROSSO
LETICIA TALITA MORAES, DEBORAH MARIA ARANHA BATISTA, EDUARDA MONIQUE CARLOT, JOÃO MARCOS ALE DA CONCEIÇÃO, LILIAN MAYUME WATANABE, NATHALIA CARMONO TABOSA

Última alteração: 02-10-2020

Resumo


O HIV tem sido estudado de forma sistemática pelo menos nos últimos trinta anos, tivemos diversos avanços no que diz respeito ao tratamento, a qualidade de vida, as medicações, as terapias anti-retrovirais e as políticas públicas para os pacientes infectados pelo vírus. De todo modo, pouco ou nada se sabe como os trabalhadores da saúde lidaram com os dilemas provenientes do pouco conhecimento que se tinha nos anos 90 a respeito da doença e do tratamento no Estado do Mato Grosso. Nesse sentido nosso objetivo foi conhecer as histórias dos médicos (as) que atenderam pacientes com HIV/Aids nos anos 90 no Mato Grosso.
Trata-se de um estudo qualitativo de história de vida temática que usou de roteiro semi-estruturado para as entrevistas. Entrevistamos médicos que tiveram contato direto com pacientes soropositivos no começo dos anos 90. A análise das informações colhidas se deu a partir de uma perspectiva histórica priorizando eventos vivenciados pelos sujeitos. Nossa amostra foi selecionada por conveniência, e foi indicada por uma infectologista que trabalha na rede pública. Após as entrevistas serem realizadas, elas foram transcritas e, em seguida, foram separadas em núcleos de significado e categorizadas. Todos os procedimentos bioéticos foram adotados para garantir que os sujeitos participantes tivessem os riscos minimizados por sua participação no estudo.
Fizeram parte da nossa pesquisa quatro sujeitos, sendo 3 mulheres e 1 homem. A formação profissional dos sujeitos é em medicina, sendo uma infecto pediatra, um clínico, dois infectologistas, todos com mais de 20 anos de formação.Foram identificadas algumas categorias que pareceram recorrentes nas quatro entrevistas, dentre elas destacamos: homossexualidade, primeiros casos da doença, tempo entre diagnóstico e óbito, 1º caso que atendeu, infecção em mulheres, evolução dos medicamentos. O que se percebe através da análise dos resultados é que a história do HIV/Aids no Mato Grosso não é diferente da história da doença em outras partes do Brasil, guardadas as devidas
particularidades. O relato dos sujeitos ajuda a ter uma imagem clara de como o HIV esteve e está associado a um discurso preconceituoso, o
que consideramos ser em parte por ignorância e em parte por estigmatização, já que se trata de uma doença prevalente entre homens que fazem sexo com homens e de que a transmissão é majoritariamente sexual.
A questão que os sujeitos deixaram para reflexão é o sucateamento do serviço publico de atendimento a população que vive com HIV/Aids. Todos os sujeitos são concursados e relatam que embora já estão aposentados ou prestes a aposentar não foram abertas outras vagas para substituí-los. Isso parece colocar em xeque a política de saúde pública em relação ao HIV. É importante destacar que o Brasil já foi referência mundial no que diz respeito ao tratamento de pacientes com HIV. O alerta deixado pelos entrevistados é que esse cenário pode estar
mudando.

Palavras-chave


estigma; preconceito; homossexualidade;