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ANSIEDADE E DEPRESSÃO EM ESTUDANTES DE MEDICINA: ANÁLISE QUALITATIVA COM BASE NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Última alteração: 02-10-2020
Resumo
INTRODUÇÃO: Sintomas ansiosos e depressivos acometem 33-35% dos estudantes de Medicina. Provocam prejuízos funcionais, sofrimento clínico, distúrbios, comportamento de risco e ideação suicida. Estudos quantitativos comprovaram a prevalência, mas não os motivos da presença nessa população, nem se são anteriores ou posteriores ao curso. OBJETIVO: Esse estudo visa compreender os fatores ansiogênicos e depressiogênicos, identificar o momento de sua instalação e propor estratégias de coping. MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo qualitativo com delineamento observacional transversal individualizado, envolvendo 12 entrevistas semiestruturadas com alunos do curso de medicina de uma instituição de ensino superior privada de Curitiba ao longo de 2019, transcrição e interpretação dos dados à luz da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e de acordo com o método de análise de dados qualitativos proposto por Philipp A. E. Mayring (1952-atual). RESULTADOS: Inferiu-se dos relatos que os esquemas cognitivos do futuro médico formaram-se a partir de excelente desempenho acadêmico prévio à universidade. Mas, no início desta, ao passar a conviver com perfis semelhantes, ele perde seu antigo status. Além da mudança de realidade, as dificuldades próprias da formação em si confrontam a antiga autoimagem, levando-o a questionar suas capacidades e a sentir que já não funcionam da mesma maneira. CONCLUSÕES: Modo cognitivo, segundo Aaron T. Beck (1921-atual), é o conjunto de esquemas como o indivíduo lida com a realidade, sendo construído a partir de sua história de vida, biologia e influências ambientais. Inspira estratégias, funcionais ou não, de ver e enfrentar o mundo e a si mesmo. No caso dos relatos colhidos, é possível admitir que, em face da nova realidade e desafios acadêmicos, o modo cognitivo dos estudantes entre em dissonância após o ingresso no curso de Medicina. Em resposta, estabelece percepções ilógicas sobre si e o mundo, os erros cognitivos, e pensamentos disfuncionais, culminando em sintomas ansiosos e depressivos, comparações com os colegas, comportamento desadaptativo, sentimento de ser uma fraude, estresse, burnout e ideação suicida. Esse processo emerge no momento em que se evidencia a mudança entre a autopercepção prévia e a posterior ao início do curso. A pesquisa mostrou ainda ser possível tratar os sintomas pelas técnicas da TCC individual ou em grupo, o que não dispensa repensar as culturas institucional e médica de uma maneira mais ampla.
Palavras-chave
Estudantes de Medicina; Ansiedade; Depressão;