Última alteração: 30-11-2022
Resumo
Ainda que economia e geopolítica sejam elementos presentes na formação de um clima hostil na região fronteiriça entre Rússia e Ucrânia, elementos culturais são também frequentemente utilizados como argumentos por lideranças de ambos os lados. Não seria, portanto, diferente no âmbito da questão religiosa. Seguida hoje por cerca de três quartos da população, a Igreja Ortodoxa Russa é pilar fundamental da atual Federação da Rússia e ferramenta ímpar na coesão do nacionalismo alimentado pelo governo russo contemporâneo. Dada a atualidade dos fatos, a revisão bibliográfica realizada sobre o tema precisou se atentar a materiais mais recentes centrados em abordar o tema. Através desse meio, foi possível perceber que já faz algum tempo que o Patriarcado russo não tem se furtado de tecer severas críticas ao que chama de “invasão ideológica” em território ucraniano, alegando que a Ucrânia seria “parte inalienável” da história russa e o que ocorre hoje seria uma luta que transcenderia o mundo físico, se tratando de uma defesa da cultura local em um esquema mundial contra a Rússia. A escalada de tensões entre o Primaz russo e o governo de Kiev remonta a embates que já se estendem por algumas décadas e culminaram no fenômeno que em muito se aproxima de um cisma, aos moldes daqueles que marcam a história do cristianismo mundial. A Ucrânia desfruta de uma maior pluralidade religiosa, em relação ao gigante país vizinho, e mesmo dentro da ortodoxia cristã local são duas as denominações relevantes. A própria nomenclatura dos ramos religiosos locais deixa claro que se esse aspecto não pode ser negligenciado sob a ótica russa, onde é a ortodoxia é cooptada pelo governo, e tampouco chega a ser algo simples no lado ucraniano.